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Comorbidades associadas ao Transtorno do Espectro Autista, como identificar?

Comorbidades no Transtorno do Espectro Autista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é frequentemente acompanhado por diversas comorbidades, que podem agravar o quadro clínico e aumentar a complexidade do manejo terapêutico. Entre as condições mais comuns associadas ao TEA estão os distúrbios de ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), epilepsia e distúrbios do sono. Essas comorbidades podem variar em intensidade e frequência, impactando significativamente a qualidade de vida do indivíduo e de sua família. O reconhecimento e o tratamento adequado dessas condições associadas são essenciais para uma abordagem mais completa e eficaz no cuidado ao paciente com TEA, promovendo maior bem-estar e desenvolvimento funcional.


Deficiência intelectual — As habilidades cognitivas de indivíduos com TEA são geralmente desiguais, independentemente do nível geral de inteligência. O desempenho em tarefas que exigem processos mecânicos, visuoespaciais ou perceptivos é geralmente melhor do que em tarefas que exigem processos conceituais de ordem superior, raciocínio, interpretação, integração ou abstração.


Deficiência de linguagem — Embora a deficiência de linguagem seja comum em crianças com TEA, ela não é necessária para o diagnóstico. Quando a deficiência de linguagem está presente, ela deve ser especificada separadamente do diagnóstico de TEA. A depender da heterogeneidade de outras manifestações, há uma ampla variação na forma e gravidade da disfunção de linguagem em crianças com TEA, que inclui:


  • Comunicação inexistente (a criança não faz tentativas de compartilhar pensamentos ou interesses ou fazer solicitações),

  • Comunicação que consiste apenas em gestos físicos (por exemplo, pega um adulto pela mão para levá-lo a um objeto ou atividade desejada, sem contato visual ou linguagem falada),

  • Falar apenas palavras ou frases isoladas,

  • Desenvolvimento da linguagem com atrasado


Em crianças com TEA, a linguagem receptiva pode parecer atrasada em relação à linguagem expressiva. As crianças podem não responder ao chamado de seus nomes; preocupações com deficiência auditiva podem, inclusive, ser a queixa inicial. Suas habilidades de linguagem expressiva "mais bem desenvolvidas" podem representar uma linguagem não funcional (por exemplo, ecolalia, linguagem de rotina/escrita). As pontuações de linguagem receptiva na avaliação formal podem ser menores do que aquelas para a linguagem expressiva. Por causa de sua capacidade de lembrar a linguagem de filmes ou conversas anteriores, crianças com TEA podem às vezes parecer ter habilidades de linguagem expressiva mais sofisticadas do que podem ser apoiadas por sua linguagem receptiva. É sempre importante falar com as crianças com TEA em seu nível de compreensão da linguagem, em vez de em seu nível de produção de linguagem, ecolalia ou escrita.


  • Regressão do desenvolvimento da linguagem,

  • Incapacidade de entender perguntas ou instruções simples,

  • Prosódia atípica (melodia, tom e inflexão) ou ritmo irregular,

  • Dificuldades de aprendizagem baseadas na linguagem, na compreensão da leitura, compreensão auditiva, expressão oral, expressão da escrita e matemática aplicada (problemas de palavras),


Crianças sem comprometimento da linguagem acompanhante (por exemplo, aquelas que conseguem falar em frases gramaticalmente corretas) têm frequentemente uma linguagem pragmática atípica. Crianças com TEA sem comprometimento da linguagem podem ter comportamentos e sintomas que se sobrepõem a uma deficiência de aprendizagem não verbal.


Transtorno de ansiedade — A taxa de ansiedade no TEA é significativamente maior do na comunidade em geral, com prevalência variando de 42 a 80 por cento; persiste algum debate sobre se a ansiedade é ou não uma característica central do TEA, uma característica devido aos comprometimentos relacionados ao TEA ou uma condição separada, porém associada ao autismo.


Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento — o TEA frequentemente ocorre simultaneamente com outros distúrbios do neurodesenvolvimento. Os sintomas de condições comórbidas (por exemplo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, comportamentos disruptivos, depressão) podem ser exacerbados por experiências sociais negativas e maior conscientização sobre as diferenças e dificuldades sociais (por exemplo, isolamento, marginalização e bullying).


As condições do neurodesenvolvimento comumente associadas ao TEA incluem:


  • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – A associação entre TDAH e TEA está na faixa de 30 a 50 por cento.

  • Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e outros transtornos de comportamento disruptivo.

  • Depressão e outros transtornos de humor (mais comuns em adolescentes e adultos, particularmente aqueles sem comprometimento intelectual).

  • Transtornos de tique.


Dificuldade de aprendizagem – Crianças com TEA sem deficiência intelectual podem ter dificuldades de aprendizagem, apesar de terem bom desempenho em avaliações padronizadas do desempenho escolar. Elas podem começar a ter dificuldade na terceira ou quarta série, quando habilidades limitadas de linguagem pragmática e consciência social afetam a compreensão da leitura e a expressão da escrita. Disfunções executivas também interferem no sucesso acadêmico nesses e nos níveis subsequentes. As crianças com TEA e dificuldades de aprendizagem podem sentir-se frustradas e acabar desenvolvendo comportamentos inadequados caso as dificuldades de aprendizagem não sejam reconhecidas e abordadas da forma adequada.


Exemplos de dificuldades de aprendizagem associadas ao TEA incluem:


  • Desempenho ruim em tópicos não relacionados ao seu interesse preferido

  • Desempenho ruim quando o aprendizado em grupo ou discussão em sala de aula é necessário

  • Ser facilmente sobrecarregado se solicitado a gerenciar sua própria agenda, acompanhar suas tarefas de casa ou concluir tarefas complexas (por exemplo, relatórios de livros, ensaios)

  • Disfunções executivas (por exemplo, dificuldade em lembrar, planejar e concluir tarefas)

  • Dificuldade em entender conceitos abstratos que fazem parte de um currículo típico do ensino médio (por exemplo, desenvolvimento de personagem ou motivação em obras de ficção, conceitos históricos ou sociais [por exemplo, "paz", "justiça", "liberdade"])

  • Dificuldade de aprendizagem não verbal em crianças com TEA sem um comprometimento de linguagem associado.


Problemas de sono — Crianças com TEA podem ter problemas ou distúrbios de sono associados, incluindo resistência à hora de dormir, ansiedade, distúrbios no início do sono, despertar frequente, inquietação ou arquitetura anormal do sono


Problemas alimentares — Dadas suas respostas atípicas a estímulos sensoriais e a necessidade de rotina, crianças com TEA podem se recusar a comer alimentos com certas texturas ou podem comer apenas alimentos com certos sabores e texturas. Esses comportamentos podem estar associados a sintomas gastrointestinais (por exemplo, anormalidades de peso, diarreia, constipação) ou deficiências nutricionais devido à ingestão atípica.


Condições médicas ou genéticas — o TEA pode estar associado a condições médicas (por exemplo, epilepsia), fatores ambientais (por exemplo, uso de valproato durante a gestação) ou síndromes genéticas


Déficits motores — Crianças com TEA podem ter déficits motores, incluindo marcha anormal, falta de jeito, andar na ponta dos pés ou outros sinais motores anormais, como hipotonia. Embora os déficits motores sejam comuns, eles não são características definidoras do TEA.


Macrocefalia — Aproximadamente um quarto das crianças com TEA isolado tem circunferência da cabeça maior que o 97º percentil. Uma taxa aumentada de crescimento da cabeça é encontrada em até 70 por cento das crianças durante o primeiro ano de vida, mas nem todas essas crianças se tornam macrocefálicas.


O crescimento acelerado da cabeça pode estar relacionado a anormalidades nos processos de desenvolvimento cerebral inicial que contribuem para as manifestações clínicas do TEA. Por volta dos dois a quatro anos de idade, o volume cerebral médio aumenta e a megalencefalia está presente em algumas crianças. No entanto, embora a macrocefalia ocorra em algumas crianças com TEA, ela não é necessária para o diagnóstico.


Indivíduos com TEA e macrocefalia podem ter mutações no gene PTEN, colocando-os em risco de síndromes de tumor hamartomatoso. A avaliação para síndromes de hamartoma PTEN em crianças com TEA e macrocefalia é discutida separadamente.


Habilidades especiais — Alguns indivíduos têm habilidades especiais em memória, matemática, música, arte ou quebra-cabeças, apesar de deficiências profundas em outros domínios. Outras habilidades especiais incluem cálculo de calendário (determinar o dia da semana para uma determinada data) e hiperlexia (domínio espontâneo e precoce da leitura de palavras isoladas). A leitura é geralmente concreta, com pouca compreensão ou entendimento do propósito da leitura.


O reconhecimento e tratamento das comorbidades associadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) são essenciais para promover uma melhor qualidade de vida às pessoas com autismo e suas famílias. As comorbidades, como transtornos de ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), epilepsia, distúrbios do sono, entre outras, podem intensificar os desafios comportamentais e de comunicação já presentes no TEA. Um diagnóstico e tratamento adequados dessas condições auxiliam no desenvolvimento global do indivíduo, permitindo intervenções mais eficazes e personalizadas. Além disso, a abordagem integrada e multidisciplinar, envolvendo especialistas em diversas áreas, contribui para a promoção de um desenvolvimento mais saudável, melhora o bem-estar emocional e social. O tratamento das comorbidades é, portanto, uma peça fundamental no suporte integral ao indivíduo com TEA, ajudando a maximizar seu potencial e promover uma inclusão mais efetiva na sociedade.


 
Dr. Rodrigo Vargas, Neurologista e Neuropediatra (CRMGO 15286/ RQE 9716 / RQE 18012)

Dr. Rodrigo Vargas é médico Neurologista e Neuropediatra (CRM-GO 15286 / RQE 9716 / RQE 18012), membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN/AMB) e da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI), possui Título de Especialista em Neurologia pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN/AMB) e Certificado de Área de Atuação em Neuropediatria pela Academia Brasileira de Neurologia e Sociedade Brasileira de Pediatria (ABN-SBP/AMB). Atua há mais de dez anos na assistência e docência em Neurologia, atuando em serviços de média e alta complexidade em Neurologia e Neuropediatria.


 

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